Público-alvo. Aqui está um conceito que me faz alguma confusão como é entendido em certos casos. Não entendo que a música seja algo que se possa dividir como sendo para consumo exclusivo de determinados grupos, muito menos divididos por classes etárias. Claro que há as músicas infantis e “coisas” de consumo imediato que acabam por se consumir a si próprias em pouco tempo, direccionadas especialmente para determinados públicos. Geralmente estes públicos assediados são sempre públicos muito jovens e que acabam por ser eles a controlar as carteiras, os comandos da televisão e os ouvidos dos pais. O que me leva a uma das questões que considero realmente fulcrais em todo este assunto: Educação.
Mas como a questão da Educação levar-me-ia a escrever aqui um comentário bem mais longo do que este, e algo me diz, que este já o vai ser o suficiente, deixo esse tema como sugestão para uma próxima alínea deste debate.
Voltando à questão do público-alvo do “Um e o Outro”. Não o consigo definir. Nem por classes etárias, sócio-económicas, de educação ou culturais. Das poucas pessoas que conheço que conhecem realmente este trabalho, há gente de todas as idades, com variado poder económico, com todos os tipos de vivências e educação que o adoram, da mesma forma que a mesma variedade de pessoas não lhe encontra interesse nenhum. É uma questão de gostos, não de fórmulas matemáticas engendradas sabe-se lá por quem.
Em relação ao problema que acho que se pode considerar já cultural de as rádios em Portugal se recusarem a passar música portuguesa, a minha dúvida vai um pouco mais longe. Porque é que as rádios se recusam a apostar em música com qualidade? Claro que não se pode generalizar esta questão em absoluto mas a meu ver é um bocado o que acontece. A rádio tende a aproximar-se cada vez mais do caminho escolhido pela televisão de apostar em algo que sabem à partida que vai vender para grandes massas em detrimento da qualidade. A questão das cotas parece-me absurda. Não é por ser “nacional” que deve passar na rádio. Nem deve ser por isso excluído. O factor de escolha não deve ser a nacionalidade mas sim a qualidade da música. Ter de haver cotas é, para mim, um profundo desrespeito pelo trabalho sério e de qualidade.
Falar do papel dos Xutos no problema de divulgação deste projecto parece-me também extremamente interessante mas aqui discordo, em parte, do que tem sido dito. Não acho que os Xutos sejam um factor condicionante da aproximação das pessoas a este trabalho a solo, muito menos fazendo-lhe sombra. Quanto muito iria ajudar podendo levar a mais gente querer ter um primeiro contacto com este trabalho para saber o que anda o vocalista dos Xutos a fazer. Mas ao mesmo tempo, isso não acontece! Porquê? E aqui faz-se sentir a enorme falta de divulgação de que este projecto tem sofrido. Considero que houve uma desmarcação extremamente saudável do binómio Tim – Xutos, no sentido de não haver o aproveitamento de usar os Xutos, independentemente de não ser possível, mesmo que se queira, um distanciamento total pois é “O Tim” e as pessoas identificam-no inevitável e imediatamente com os Xutos e com toda a carreira que lhe é reconhecida. Mas essa “bengala” iria encher mais salas de pessoas levadas ao engano. Seria muito fácil apresentar as músicas de “Um e o Outro” intercaladas com êxitos dos Xutos. E esta posição, apesar de poder dificultar parte do processo de divulgação, vem dar ainda mais crédito a este trabalho que vale por si próprio sem precisar de bengalas traiçoeiras.
Inclino-me para indicar, dos indicados no início da mensagem “Debate II”, como principal factor de dificuldade de divulgação a parte de “ó tim és um chato da porra”. Pronto, pronto, não vamos aparvalhar que isto já vai suficientemente longo e o tema é sério! :P
Para acabar, acho que a parte do problema de divulgação deste projecto (e de muitos outros de bastante valor) por parte dos meios de comunicação – televisões, rádios, jornais, revistas, etc. – não pode ser tratado como um problema exclusivo desses meios mas sim um problema também dos consumidores que não exigem receber produtos com qualidade e em vez de mostrarem o seu desagrado e exigir continuam de televisão e rádio ligada e a comprar revistas e jornais que depois nos queixamos que não tem interesse mas que alimentamos. É certo que é uma “pescadinha de rabo na boca”: não é dado a conhecer, o público não conhece logo não exige, se não exige não tem procura, se não tem procura não tem venda garantida, se não tem venda garantida não se aposta, se não se aposta não se dá a conhecer. O que me leva mais uma vez à questão da Educação. Temos, enquanto consumidores, o poder (e o dever) de exigir qualidade e de rejeitar o lixo que nos impingem e consumimos muitas vezes por comodismo. Só assim, fazendo a nossa parte podemos “obrigar” a quem de direito faça a deles. E se não fizerem, não os continuemos a alimentar só porque sim. E resta-me pedir desculpa pelo testamento mas o tema é bom e tem muito que se lhe diga! :)
Falo baseado em mim e no meu círculo,o dos 35.
O teu trabalho teve uma enorme falta de divulgação.
Há muita gente que gosta do teu trabalho só que quase não compra música e ouve música no rádio quando está no carro.
Basicamente há uma falta de cultura de ouvir música Portuguesa e de comprá-la (dentro deste género músical).
Eu gosto do teu trababalho, por favor não pares.