
Alguns meses depois, fui contatado pela EMI no sentido de fazer um fado para a Mariza, na sequência das conversas de Paris. Fiquei mesmo orgulhoso, e logo a seguir receoso, porque não sabia como começar, nunca tinha feito um fado.
Fui de férias, seria Setembro, em St Maria, Açores, e concentrei-me na letra, começando na primeira linha, "vou andando, cantando..."
Entretanto tentei fazer uma harmonia original, mantendo a linha melódica que começava a estar colada á letra. A inclusão do acorde dissonante logo na segunda posição dava o ambiente que eu precisava, e a letra/melodia cada vez pareca mais um caminho....Achei que estava numa direção boa, não sabia era bem para onde...Entretanto, já no Outono do Continente, a letra encaminhou-se para alguém que procura outro que se refugiou, inacessível. Parecia-me bem fadista alguém que toma o destino nas mãos e vai á procura dele.
talvez este seja um tópico que permite a ousadia de nos expressarmos sobre o turbilhão que sentimos ao ouvir o que alguém escreveu... como se fosse um poema sobre o qual nos debruçamos em análise... assim sendo, desculpem a minha ousadia, mas não resisto... adoro a doçura desta música, desde o primeiro momento...
tanto há a dizer sobre a lateralidade dos coceitos sentidos no "fado do encontro"... os sentimentos paralelos abundam...é a beleza uma declaração de amor a alguém que já foi embora, uma certeza que permanece num coração pleno de saudade... uma certeza de se ter amado alguém que nunca se esquecerá e a felicidade de nunca se querer esquecer... enfim, uma "tragédia" (não sei se este será o melhor termo!) fadista ou a verdade de se ser, gostosamente, "blue"... em que a saudade traz memórias da felicidade de se ter encontrado, de se ter estado... em que tudo é, por certo, vontade... em que tudo é, por certo, destino... em que tudo é, por certo, a certeza da verdade...
marta